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Em defesa da dieta mediterrânica algarvia

No mundo moderno e globalizado em que vivemos, as regiões devem diferenciar-se positivamente a partir das suas mais-valias intrínsecas. O Algarve e Lagoa, em particular, não apenas detêm um clima e paisagens costeiras invejáveis, como também um património humano feito de séculos de articulação entre as necessidades das populações e o meio ambiente. O património material edificado, já o sabemos, foi desprezado e até eliminado ao longo dos últimos cinquenta anos, sem que houvesse autarcas com rasgos de ambição que compreendessem o seu valor. Pior ainda tem andado o património imaterial, os saberes e modos de fazer e viver, pouco estudados e menos ainda conservados.

 

Felizmente, este século XXI, que não há de ser senão o da qualificação que complemente e modere o materialismo herdado da centúria anterior, tem visto alterações nesta perspetiva. Em quatro de dezembro de 2013, através de um processo liderado pela câmara de Tavira, a Dieta Mediterrânica é elevada a Património Imaterial da Humanidade, atestando a sua relevância cultural, económica, social e geográfica. Esta dieta caracteriza-se pelo consumo moderado de uma grande variedade de produtos locais pouco ou nada processados, como o peixe, os mariscos, os legumes e frutas, o azeite, o vinho, os queijos, o pão…

 

Para o concelho de Lagoa a promoção e defesa desta Dieta tem a tripla valia de:

  • Distinguir um produto singular e de qualidade, que diferenciará o nosso turismo face a outros destinos;
  • Promover a economia local, ao privilegiar os produtos frescos e regionais;
  • Incentivar a uma alimentação mais saudável, que melhore a saúde dos habitantes do concelho.

 

Porém, a concretização destes desígnios tem que ser materializada em ações sistemáticas de divulgação junto das pessoas do concelho e dos agentes económicos nele estabelecidos. Quanto ao primeiro aspeto, devem ser promovidas ações pontuais junto das escolas e criando eventos que dinamizem estes conceitos. Por outro lado, junto dos agentes económicos, nomeadamente os restaurantes pode ser criado um selo específico que atribua a qualidade de “Restaurante Mediterrânico” aos estabelecimentos que a esta iniciativa queiram aderir e cumpram os critérios estabelecidos.

Se as autarquias não são órgãos económicos que possam chegar a todo o lado, são certamente faróis que podem indicar caminhos aos agentes económicos concelhios, sobretudo na direção da maior qualidade de oferta de um produto, neste caso, cultural e gastronómico. A defesa do património imaterial também exige energia e esforço para se materializar no terreno e os órgãos autárquicos não podem eximir-se das suas responsabilidades neste campo.

Assim, instamos a Câmara Municipal a criar um grupo de estudo que se comprometa a elaborar ações concretas para este património que é de todos nós: a Dieta Mediterrânica Algarvia.

 

 

O Deputado Municipal do Bloco de Esquerda

 

David Roque

 

Lagoa, 30 de setembro de 2015

 

Aprovadada por unanimidade